Contos de Alguém para todos Vós

"If one is not half mad, how can one give birth to a dancing star?" (Nietzsche)

sábado, outubro 21, 2006

Red.. as passion? ... as desire?


Fire's Reflection (Rilke)

Perhaps it's no more than the fire's reflection
on some piece of gleaming furniture
that the child remembers so much later
like a revelation.
And if in his later life, one day
wounds him like so many others,
it's because he mistook some risk
or other for a promise.
Let's not forget the music, either,
that soon had hauled him
toward absence complicated
by an overflowing heart....

terça-feira, outubro 17, 2006

Também pode ser: in the afternoon...

In the morning- Razorlight

I don't know what I'm doing wrong
Maybe I've been here too long
The songs on the radio sound the same
Everybody just looks the same
But then last night was so much fun
And now your sheets are dirty
The streets are dirty too but
You never look back over what you've done
Remember when you were young
You'd lose yourself
In the morning, you know you won't remember a thing
In the morning, you know it's gonna be alright
Wake him up, warm him up
Put him on the stage, well
The boy can't help it, it's not his fault
Just a dangerous dangerous thing
But then every night's still so much fun
And You're still out there darling
Clinging on to the wrong ideas but
I never regret anything I've done
Remember when you were young
You'd lose yourself
In the morning you know he won't remember a thing
In the morning you know it's gonna be alright
In the morning, you know he won't remember a thing
In the morning, you know it's gonna be all. . .
In the morning, you know he won't remember a thing
In the morning, you know it's gonna be all?
In the morning, you know he won't remember a thing
In the morning, you know it's gonna be alright
Are you really gonna do it this time?
Are you really gonna do it this time?
Are you really gonna do it this time?
Are you really gonna do it this time?(x2)
You've got got to do it this time
Are you really gonna do it do it do what?
Are you really gonna do it do it do it yeah
Are you really gonna do it what
In the morning you know he won't remember a thing
No not a thing and
In the morning yu know he won't remember a thing

Nem sempre é...


quinta-feira, outubro 12, 2006

A bit of poetry to all of you....

Ontem pôs-se o Sol, e a Lua
girou no seu oco céu.
Nunca tão breve noite, dia
vieram para mim.
Hoje pôs-se a Lua, e o Sollogo caiu no ocaso.

Ainda mais rápidos os astros
vieram para mim.
Como serão noites, dias

do tempo de amanhã?
Um único momento imenso,o meu futuro?

Fiama Hasse Pais Brandão

quarta-feira, outubro 11, 2006

E mais um conto...

Ruinas

Projecções do que se passava lá dentro encontravam-se reflectidas nas paredes vestidas de vitrais coloridamente sagrados. O eco da música que timidamente ampliava essas mesmas paredes, era agora uma sonoridade agradável, uma melodia de fundo, que já não pertencia ali, mas a outra dimensão longínqua ou, pelo menos, durante mais algum tempo. A fragrância sentida era uma mistura de essências de baunilha, canela, de rosas selvagens, de ânsias, voluptuosidade e de enleio.
Não era um local isolado ou longe do centro da cidade, situava-se a escassos metros de uma das principais entradas. Embora acessível e visível a qualquer condutor ou caminhante, passava despercebido a qualquer intenção de cometer qualquer acto de invasão curiosa. Tratava-se, portanto, de um esconderijo perfeito para a condição em que se encontravam aqueles dois. Excepcionalmente, o diálogo usual que tantas vezes se havia gasto, não acontecera. Somente palavras soltas foram proferidas. Somente algumas palavras ousaram profanar o ambiente quente, ardente, perfumoso e afectuoso. E era vê-los deitados sobre uma toalha de mesa antiga, levada e esquecida para ali, há tanto tempo atrás. Teria servido de revestimento daquela mesa de madeira do lado esquerdo do altar. Apesar dos anos e do uso ter passado por ela, não estava nem gasta nem manchada, como que tivesse sido fiada com o propósito de ser utilizada por estes dois seres tão afastados, sem que, no entanto, pudessem ser apartados um do outro.
E lá continuavam, uma vez mais, abraçados, agachados, deitados, colados, aninhados, acarinhando-se, beijando-se, tocando-se, unindo-se, sem uma palavra, sem um pensamento, com toda a emoção, com todo o desejo, apenas escutando os sons do momento, com todo o prazer que provinha daí. Os seus corpos transformavam-se numa massa homogénea mas proporcionalmente desigual. A sua mente esvaziava-se de coisas vulgares ou relevantes, importando apenas as coisas que ambos estariam a experimentar. Era algo de muito carnal, que impulsionado para algo mais intenso, se transformava no êxtase ansiado e ali vivido.
Um raio de luz e de som provocara o cessar de toda aquela movimentação libertária prazerosa. Tudo começara a ruir, paredes, altar, bancos, portas. O pó instalara-se definitivamente, invadindo a atmosfera com um sentido de catástrofe. Havia sido uma bomba que fora lançada, errando o alvo em muitas dezenas de quilómetros. Havia sido uma bomba, que lançando o pânico, a desordem, as trevas, pusera fim à ordem, ao calor, à serenidade deleitosa. Pedra a pedra, madeira a madeira, tudo era naquele momento um aglomerado de cinzas e de destruição, sobraram apenas as vigas que sustinham aquele santuário. Sobrara apenas os restos de algo, levianamente inconsequente, que alguém iria cometer, num espaço de tempo próximo. Não chegou a fazer nada.
Apressadamente, embrulhara-se na toalha, tacteando o caminho de saída, nem se dando conta que algo faltara, que algo ficara lá dentro, que esse algo estaria irremediavelmente perdido. Começara a correr para se salvar, sem saber que condenada já estava ela, sem saber que corria para um evitável abismo. De súbito lembrara-se dele. Ele ficara lá dentro, soterrado, talvez já sem vida. Tinha que se salvar, procurar auxílio. Começara novamente a correr. E a correr já ia também a sua mente.
Através das persianas corridas do escritório, impunha-se um céu cinzento e infausto. Havia de passar pelos Correios para que o plano surtisse o efeito desejado. Por vezes há que agir sem elaborar meticulosamente uma estratégia. Tal era o anseio com que a sua mente voava, que à saída do edifício, pela porta principal, que dava para a rua dos quatro semáforos, não reparando no sinal vermelho, atravessa a rua desatentamente. Uma paragem brusca, mas que não chegara a tempo, desenlaça-lhe um fim trágico. Viria a falecer duas horas depois, nas urgências do hospital distrital. Um quarto vazio de sentimentos, de cor, de vida, sem ele.
Arrependera-se. Não era assim que queria que acontecesse. O fim não poderia ser tão trágico. Apesar de ser um fim possível, útil até, pois deixaria de ser arrastada para junto dele, deixaria de se sentir impelida para o ver, para lhe falar ou tocar, algo persistia em alicia-la para junto daquele ser, único, maléfico e angelical.
Tinha que salvá-lo. Tentaria salvar-se. Tentaria salvar um amor perdido.
Dirigiu-se lá para dentro. Ele encontrava-se por debaixo de umas vigas de madeira, perto do que havia sido o altar. Alçou uma por uma, tapando o nariz e a boca por causa da poeira que teimava em levantar-se. Ainda respirava. Ainda estaria a tempo de redimir-se de uma acção, de um pensamento de há pouco tempo. E pensar que o tinha abandonado. E pensar que conseguira, embora por breves instantes, resistir-lhe, virar as costas e prosseguir com a sua vida. Tentara um começar de novo. Tentara um viver como o de antes. Tentara apagar as memórias sentidas. Tentara ignorar as emoções suas e as partilhadas. Ainda respirava. Levantou-o, com muito cuidado. Abraçou-o, pôs os braços dele à sua volta e encaminhou-se para uma das saídas, com ele de olhos agora semiabertos. Agarrou o seu braço com uma força extraordinária, com um tacto determinado mas gentil, em jeito de agradecer tal acto de salvamento, tal compaixão, tal dedicação, tal amor que insistia em durar para sempre. Ela nada disse, nada fez, mas pensou. Pensava naquele instante que tudo aquilo era um eterno Princípio e Fim, que tinha que ser vivido, ao qual não poderia nunca escapar. Aceitava. Já não iria tentar escapar sorrateiramente, fingindo nada sentir, nada desejar, nada ser.
Enquanto faziam o caminho de regresso, dirigindo-se para o hospital, um carro parou. A viagem durara apenas cinco minutos. Agora estava completamente fora do perigo de perder a vida, de perder o sorriso, de perder aquela que o entendia e aceitava, aquela única, aquela a quem sempre tinha negado o sentir para além do imediato. Já na cama, hospitalizado e adormecido, sonhava, nem ele sabia com o quê. Apenas sabia que não estava sozinho, ao seu lado, lá estava ela, a única, e sempre para sempre.
As projecções do que se costumava passar lá dentro encontravam-se então dissimuladas, nos destroços, como que fantasmas pairando no ar, donde se poderia observar algumas paredes vestidas de vitrais outrora coloridamente sagrados, daquele sítio agora feito ruínas.

terça-feira, outubro 10, 2006

Deve ser ainda por causa daquelas núvens...

"Do you know where you are??? You're in the jungle babyyy!" Uma voz silenciosa insiste em segredar-me isso. So mme apetece dizer-lhe:
- "Take me down to the paradise city where the grass is green and the boys are pretty.... take me hoooomeee!"

Deve ser por causa daquelas núvens...

Placebo
One Of A Kind

On top of the world you get nothing done,
Talk is cold and burns like the sun,
Can't you see these skies are breaking?
Coz on top of the world is where I'm from..
The back of the class is where I was,
Keeping quiet, playing dumb,
Can't you see these skies are breaking?
Coz the back of the class is where I'm from ..
And I am one,
I am .I am one,
I am, I am, I am, I am, I am.
I'm in a race and it's killing time,
I don't need yours I'll keep it with mine,
Can't you see these skies are breaking?
Coz I'm in a race and I'm doing fine,
Thank you.
Two of a kind and no one home,
I'm in a crowd and I'm still alone,
Can't you see these skies are breaking?
Cos one of a kind is all I own..
I am one,
I am.I am one,I am, I am,
I am, I am, I am.
Out of the womb and into the void,
I wanna try but I get annoyed,
Can't you see these skies are breaking?
So out of the womb and into the void.
I am one,I am.
I am one,I am I am I am I am.
I am one,I am.
I am one,
I am I am I am I am I am.
On top of the world you get nothing done.

segunda-feira, outubro 09, 2006

E lá vou eu fazer com que seja mesmo assim...

E se o filho se torna num Pai? E se o Pai não se importa com isso?...

Hoje acordei assim...

E começa mais uma semana recheada de emoções, cansaço, risos, ralhetes,conversas, música, livros... e surpresas!

domingo, outubro 08, 2006

Outro conto...

Glänzend...

Percorreu velozmente todo o trajecto ao qual se havia proposto inicialmente. Ofegante proferiu as palavras costumeiras mas desta vez de uma maneira desordenada, tal como uma oração antes de adormecer, já com as pálpebras a sonhar com o dia seguinte.

Pousara os pincéis esborratados de tinta, deixando cair no chão algumas gotas que posteriormente teriam de ser removidas pelo esforço árduo de quem nada mais tem a fazer senão zelar pelo asseio caseiro. A aguarela estava quase acabada, faltando apenas alguns retoques finais. Ingrato este trabalho que nos sorve completamente a atenção, a dedicação e para uma minoria todo o génio criativo. Suspirava. Devia de ter dado mais umas quantas pinceladas espessas na coloração das ondas. Aquele tom não se assemelhava de maneira nenhuma com aquele da sua lembrança. Tinha 8 anos quando pela primeira vez desfrutou da sensação de ter os seus pés envolvidos numa massa, granulosa acastanhada, mas de tacto agradável. Despiu o camiseiro e o vestido, descalçou as sandálias e fez-se ao mar. E nem as vagas espumosas a fizeram deter.

Tencionava oferecer-lhe esta pintura na qual pusera tanto da sua vivência juvenil. Mas na realidade, o seu intuito não se concretizou. Nem sempre o que mais se ambiciona ocorre. Nem sempre o destino segue o seu rumo, nem sempre o desânimo domina as acções.

Findo o percurso, sentou-se de joelhos a descansar. Tinha sido a última vez que o fazia, aquilo fatigava-o e o seu objectivo em chegar às Olimpíadas há muito que se tinha esmorecido. Por vezes, somos comandados por forças interiores que não vencerão aquelas Invisíveis, que sempre lá estiveram, mas que se desvigoraram facilmente. Seguiu para casa. Queria reflectir nesta sua resolução imediata. Queria simplesmente participar ao mundo que deixassem de apostar nele. Ele era agora um ser anónimo, um ser indiferente às exigências que lhe eram destinadas.

Arrumou os pincéis no frasco lamacento na prateleira do atelier. Hoje já não se dedicava mais ao quadro. Precisava de descansar o espírito. Mas antes, tinha de passar pela “ Arts & Life” e comprar uma ou outra tinta que não aquelas que tinha para retocar a tonalidade das ondas da sua memória. Desceu as escadas de dois em dois, contornou a esquina, passou pelos semáforos apinhados de gente e avistou a loja. Faltavam somente uns escassos metros, quando uma presença inexplicável se lhe juntou. Coçou a perna vigorosamente até que os seus olhares se cruzaram. Ali estava aquele de joelhos, cuja expressão do rosto deixava antever uma serenidade espiritual. E sem perceber como, o número do cartuxo de tinta que precisava apareceu na sua mente. Seguiu em direcção daquele indivíduo que a abraçava mentalmente e ajoelhou-se também. E assim descansaram aquelas duas almas, iluminados por uma luz que emanava da tranquilidade e do prazer que cada um transmitia ao outro.

Glänzend...

sábado, outubro 07, 2006

... and on...

Iron Maiden- Wasted Years

From the coast of gold across the seven seas
Im travellin on far and wide
But now it seems Im just a stranger to myself
And all the things I sometimes do
It isnt me but someone else
I close my eyes and think of home
Another city goes by in the night
Aint it funny how it is,
You never miss it til its gone away
And my heart is lying there
And will de til my dying day
So understand
Dont waste your time always
Searching for those wasted years
Face up... make your stand
And realise youre living in the golden years
Too much time on my hands, I got you on my mind
Cant easy this pain so easily
When you cant find the words to say
Its hard to make it through another day
And it just makes me wanna cry
And throw my hands up to the sky

And the fever goes on.....

Coldplay
Fix You


When you try your best but you don't succeed
When you get what you want but not what you need
When you feel so tired but you can't sleep
Stuck in reverse and the tears come streaming down your face
when you lose something you can't replace
when you love some one but it goes to waste
could it be worse?
Lights will guide you home
And ignite your bones And I will try to fix you
High up above or down below
When you're too in love to let it go
But if you never try you'll never know Just what you're worth
Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you
Tears stream down your face
When you lose something you cannot replace
Tears stream down your face
Tears stream down your face
I promise you I will learn from my mistakes
Tears stream down your face And I Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you.

Saturday morning fever...


W.a.s.p. - Hold On To My Heart

Will I be alone this morning
Will I need my friends
Something just to ease away the pain
And now I never see the loneliness
Behind my face
I am just a prisoner to my faith
If I could only stand and stare in the mirror would I see
One fallen hero with a face like me
And if I scream, could anybody hear me
If I smash the silence, you'll see what fame has done to me
Kiss away the pain and leave me lonely
I'll never know if love's a lie
Ooh - being crazy in paradise is easy
Can you see the prisoners in my eyes
Where is the love to shelter me
Give me love, love set me free
Where is the love, to shelter me
Only love, love set me free
Set me free

sexta-feira, outubro 06, 2006

Another day in paradise!


Era uma vez uma "Ticher"...
Imaginem a Mafaldinha já crescida... A reacção será a mesma... Mas, os meninos nestes caso não choram. Eles gritam pulam, proferem palavrões, cantam... Só lhe falta mesmo é chorar... Chorar porque a campainha tocou e no outro dia a "Ticher" estará lá novamente...
Era uma vez uma " Ticher" cujos alunos sorriem quando entra na sala... ;)

quinta-feira, outubro 05, 2006

Another bit of poetry to all of you...

POEMA (Nuno Júdice, Cartografia das Emoções)

Podemos falar dos sentimentos, descrever
as impressões que nos ameaçam, e revelar o vazio
que se descobre na ausência um do outro: nada,
porém,é tão inquietante como a dúvida,
o não saber de ti, ouvir o desânimo na tua voz,
agora que a tarde começa a descer e, com ela,
todas as sombras da alma.É verdade que o amor não é
apenas um registo de memórias.É no presente
que temos de o encontrar:aí, onde a tua imagem
se tornou mais real do que tu própria,
mesmo que nada te substitua.Então,
é porque as palavras são supérfluas; mas como viver
sem elas? Como encontrar outra forma de te dizer
que o amor é esta coisa tão estranha, dar o que nunca
se poderá ter, e ter o que está condenado
a perder-se? A não ser que guardemos dentro
de nós,num canto de um e outro a que só nós chegamos,
sabendo que esse pouco que nos pertence é
tudo o que cabe neste sentimento.
(Nuno Júdice in- Cartografia de Emoções)



"A Proclamação da República Portuguesa foi o resultado da Revolução de 5 de Outubro
que naquela data pôs termo à monarquia em Portugal."

Long live the king! Ai sim??? Ora tomem lá o Manuel de Arriaga! E quanto a si, D. Manuel II... um exílio ficava-lhe tão bem...
E chegando a 2006, quem surge no panorama presidencial? Aníbal Cavaco Silva... È assim mesmo... a " vida é feita de pequenos nadas"...

quarta-feira, outubro 04, 2006

Ora aqui está o 1º conto...deliciem-se...

Fantasmas

Há fantasmas que perduram uma vida inteira.
Há fantasmas que têm rosto, um nome, uma identidade própria. Há fantasmas que nunca nos abandonam, consumindo-nos dia após dia, até nos embrenharmos também na matéria de que são constituídos. Há pessoas que já perderam a sua essência humana, ou que sempre fizeram parte de um universo extenso sem nunca darem conta da sua dualidade. Há pessoas que são fantasmas. Há pessoas que assumiram inconscientemente uma forma etérea, provocando em seu redor dor, infelicidade, lágrimas e piedade. Há fantasmas que nos consomem por inteiro, corpo e alma, vida e morte. Há pessoas assim, corrompem toda uma essência, voltam as costas e abandonam o arruinado, deixando-o incapaz de refazer aquilo que foi destruído. Para lá das terras acessíveis entre as montanhas e o rio Tsola existe uma exígua aldeia de seu nome Lamsl. Nesse lugar isolado, vivia Legan, uma senhora na casa dos quarenta anos, serena demais para a idade, preferindo o isolamento por questões impostas pela vida. Ninguém, no entanto, a incomodava sem razão, sem um motivo válido o suficiente para a fazer sair de casa. Em Tsola a aquisição dos bens de consumo e essenciais ainda era feita como há séculos anteriores, através da troca e do empréstimo. Legan dedicava-se à fiação, corte, preparação de materiais, que posteriormente se iriam converter em peças de vestuário. Era esta a sua actividade. Espalhados por uma divisão dos seus aposentos estava uma quantidade substancial de saias, casacos, camisas, capotes, xailes. Era esta a sua nova vida. Não foi difícil o processo de habituação. Estava demasiado cansada, desiludida e destruída para se dar conta que tinha de recomeçar a viver. O acaso levara-a até Lamsl. Para isso foi suficiente um desejo de distanciamento, um meio de transporte e principalmente, um fantasma. Legan ao tentar escapar de um fantasma, havia-se tornado num outro fantasma, o seu próprio fantasma. Os seu dias agora pincelados de cinzento amargurado, já tinham tido outras tonalidades mais vivas. Já tinha experimentado a sensação de ser realizada a nível laboral, financeiro e afectivo. E foi neste último campo de sua vida que ocorreu o infortúnio. Foi aí que emergiu involuntariamente o fantasma na sua vida. Aos poucos e poucos, começara a aperceber-se de que não caminhava só, que seus pensamentos tinham sido invadidos por uma presença ténue ao princípio, mas que com o passar do tempo, se tornara cada vez mais marcante. Essa presença constante tinha uma identidade sólida, um corpo palpável, uma carga emocional perturbadora. Zyawal. Em tempos idos, desfrutaram a condição de serem uma unidade apenas. Um sentimento perdido tal como estariam agora os seus corações.
Muitas variações de Zyawal se seguiram no decurso da vida de Legan, sem ela tomar consciência disso.
Um dia houve, em que visionou a imagem da sua decadência, sentiu a sua destruição. Um dia houve, em que desistiu de tudo e isolou-se em Tsola.
Nunca despistara o fantasma de Zyawal, desconhecendo assim a libertação espiritual. Tinha a certeza que até no leito de sua partida Zyawal lá estaria, corroendo-a.

A bit of poetry to all of you....

A ignorância está muitas vezes presente nas nossas vidas; a ignorância consome, impedindo-nos de ver mais além; Mas um dia houve em que contemplamos a Estrela e.... ignorantes... nunca mais!

Ignorant before the heavens of my life (Rilke)

Ignorant before the heavens of my life,
I stand and gaze in wonder. Oh the vastness
of the stars. Their rising and descent. How still.
As if I didn't exist. Do I have any
share in this? Have I somehow dispensed with
their pure effect? Does my blood's ebb and flow
change with their changes? Let me put aside
every desire, every relationship
except this one, so that my heart grows used to
its farthest spaces. Better that it live
fully aware, in the terror of its stars, than
as if protected, soothed by what is near.

..era uma vez....


A ideia surgiu enquanto tomava um banho relaxante... o que acabou por não acontecer, tal era o turbilhão de pensamentos... Abençoados!

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